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Metade do Ano na Grã-Bretanha Emily Dicks    
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Metade do Ano na Grã-Bretanha

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Metade do Ano na Grã-Bretanha

 

 

 

 

 

 

*

Janeiro

“Por que sempre chove aqui?” Natalia perguntou à sua mãe.

A mãe de Natalia, que lia um jornal, olhou para ela surpresa. “Também chove no Brasil”, disse ela. “Você não se lembra? Lá é verão agora, mas vai chover no inverno”.

Natalia tremeu e olhou pela janela as ruas chuvosas de Londres. Agora, ela não podia mais pensar em sair de casa de biquíni da mesma forma que não conseguia se imaginar caminhando na lua. Ela, então, olhou para trás em direção ao computador que estava na pequena escrivaninha da biblioteca. Na tela apareciam várias fotos da sua amiga Rita, na praia. Rita estava bronzeada e feliz, o que deixou Natalia com um pouco de ciúmes.

“Está quase na hora de irmos embora”, disse a mãe. “A biblioteca está fechando. Termine o seu e-mail e vamos embora para casa.”

Natalia se sentou ao computador e terminou de escrever seu e-mail para a sua amiga Rita:

Sinto saudades de todos no Rio, principalmente de você! Aqui faz frio e chove muito. As suas fotos são super legais.

Beijos 
Natalia

Fevereiro

Janeiro passou rapidamente e logo veio fevereiro, e não demorou muito para que Natalia recebesse mais notícias de Rita...

Oi Natalia,

Aqui faz muito calor! Todos nós estamos nos preparando para o carnaval. Eu estou preparando a minha fantasia e o tio Rufino vai tocar tamborim na escola de samba novamente. Já falta tão pouco para o carnaval! Eu queria que você estivesse aqui.

Beijo Rita

Natalia suspirou e disse: “Carnaval...” é a melhor época do ano no Rio de Janeiro. “Quem me dera poder estar no Brasil agora”, pensou Natalia enquanto digitava no computador da biblioteca...

Oi Rita,

Obrigado pelas fotos! Amanhã eu irei para a casa da minha amiga Emma para fazer panquecas americanas para o “Shrove Tuesday” (Dia da Panqueca). Nós vamos usar açúcar e limão, mas não vai ser tão bom quanto o carnaval. Ainda faz frio por aqui e chove sem parar!

Beijo 
Natalia

Enquanto a mãe e a filha caminhavam para casa pelas ruas escuras e chuvosas da cidade, Natalia escutava a chuva salpicar das rodas dos carros que passavam ao lado da calçada. Ela imitava o som da chuva para se animar um pouco… 

“Schwoosh, schwoosh, schwoosh, schwoosh!” Ela, então, começou a bater o pé na calçada molhada… Splat, splat, splat, splat. E além do som da chuva e dos respingos, Natalia imaginou que podia ouvir o ritmo único do samba, tocado com chocalhos e outros instrumentos maravilhosos. Chuki-chuk, paf! chuki-chuki, paf! chuki-chuki, paf! chuki-chuki, paf!

Natalia brincou até chegar em casa, fazendo o som da chuva, batendo o pé na calçada e imaginando que tocava chocalho.

*

Março

Oi Natalia!

Como vai a vida na Inglaterra? Hoje nós fomos à praia, mas faltava uma pessoa para jogar vôlei. Você é a melhor jogadora de todos os primos, por isso sentimos muito a sua falta!

Aqui ainda faz muito calor. Eu estou bebendo muita água de coco para me manter refrescada! Eu tirei uma foto para que você não se esqueça!

Beijo 
Rita

 

Oi Rita,

Sinto saudades de água de coco, de açaí com granola, mas principalmente de suco de cupuaçu! Quem me dera se existisse cupuaçu aqui. Aqui, nós temos pêssego e melão, mas nada se compara com o gosto das frutas daí.

Beijo 
Natalia

*

Abril

A primavera começou a chegar na Inglaterra enquanto Natalia e a sua amiga Emma se sentavam em frente ao computador da escola.

“Olhe isto, Emma!” Natalia exclamou com entusiasmo. “Rita me enviou algumas fotos de Botafogo contra Fluminense.”

Emma se aproximou da tela para visualizar melhor os homens com roupas esportivas correndo atrás de uma bola. “Quem são eles”, perguntou ela.

“São times de futebol do Rio”, respondeu Natalia, não conseguindo disfarçar a empolgação na sua voz. “Futebol no Brasil é tão bom! Eu adoraria poder te levar a uma partida para você conferir por você mesma. As arquibancadas contam com grupos de samba, e a multidão vai à loucura quando sai um gol! O pessoal toca bem alto e todo mundo torce e canta. É como se fosse uma festa imensa. Olha, eu irei lhe mostrar!”

Natalia procurou na internet e conseguiu encontrar um vídeo de um jogo de futebol no Brasil para que Emma pudesse conferir. Havia muito barulho e cores, com um surdão com o som mais alto dentre todos os instrumentos… Ba-boom, boom, boom! Ba-boom, boom, boom! Ba-boom, boom, boom!

Depois, as duas meninas procuraram mais vídeos de jogos de futebol no Rio. Elas, então, assistiram a cidade ganhar vida através da tela: os sons ecoaram na sala escura, enquanto as cores piscavam nas paredes.  Natalia imaginou que estava no Rio, no apartamento da tia Susana e do tio Feliciano, que fica no alto de um morro, mas precisamente no quarto onde ela compartilhou com Rita e suas outras primas Alicia e Marina. O quarto estava sempre quente e as meninas sempre se divertiam admirando a vista da cidade à noite. De repente, Natalia se sentiu muito distante de casa, e isso a fez se sentir bastante triste.

*

Junho

Nesse mês, as estações tinham mudado da primavera para o inicio de verão, e um brilho de sol, pálido e leitoso, frequentemente acordava Natalia brilhando pelas cortinas da janela do seu quarto, bem cedo de manhã. Ao contrário do Rio, era um calor suave que fazia tudo brilhar. Os canteiros dos parques perto da escola zumbiam com insetos, enquanto as abelhas saiam para coletar néctar para fazer mel. Natalia percebia como todo o mundo parecia estar mais sorridente agora que o sol havia saído.

Querida Rita,

Hoje, Emma e eu jogamos tênis na escola. Foi muito divertido! Esta é a época do torneio de Wimbledon, por isso muitas pessoas estão entusiasmadas por tênis. Nós assistimos às partidas na escola e comemos morangos com creme. Foi muito divertido! Finalmente está ensolarado aqui, e realmente muito bonito!

Beijos

 

Oi Natalia,

Nós também temos tênis aqui, lembra? Mas eu não gosto de jogar tênis quando está muito quente. Parece que você está se divertindo na Inglaterra, mas aqui é sempre mais divertido!

Aqui, estão algumas fotos minhas e do João quando fomos a um passeio da escola para o Jardim Botânico.

Beijos

Quando Natalia leu este último e-mail ela não conseguiu conter o seu aborrecimento com sua amiga Rita. Parecia que Rita estava sempre dizendo o quanto as coisas eram melhores no Brasil, mesmo sabendo que Natalia sentia muita falta do seu país. No final, as duas amigas acabaram discutindo e decidindo não se escrever por um tempo. Natalia percebeu então, mais do que nunca, como era difícil estar longe de casa e se adaptar a um novo país. Além disso, ela estava decepcionada com sua amiga Rita, que vinha sendo muito insensível.

*

Julho

Foi um verão quente, o período escolar havia terminado e Natalia se sentia sozinha. Emma tinha ido visitar a avó na Escócia e sua mãe estava sempre trabalhando. Natalia estava entediada e sentia muita falta de casa. Ela estava cansada de assistir aos mesmos programas de televisão; aqueles com pessoas estúpidas vestidas de monstros peludos, sempre cantando canções bobas. Ela estava entediada até mesmo de desenhar. Tudo o que ela podia pensar era desenhar a praia do Rio, com pessoas sentadas debaixo de guarda-sóis tomando água de coco, jogando vôlei ou surfando nas águas quentes do mar. Pensar no Rio a deixava muito triste.

A mãe de Natalia tinha mostrado a ela como trancar a porta da frente para que ela pudesse ir para a biblioteca quando quisesse. Isso fez com que Natalia se sentisse muito mais adulta. No entanto, toda vez que ela ia para a biblioteca e ligava o computador, ela se sentia decepcionada de não ter recebido nenhum e-mail da sua amiga Rita. Natalia estava muito aborrecida porque elas haviam discutido e sentia falta de receber notícias de casa.

Mas, um dia, Natalia recebeu um e-mail, não de Rita, mas de sua amiga inglesa Emma...

Oi Natalia,

Como você está?  Minha mãe me perguntou se você gostaria de vir aqui e ficar com minha avó e comigo no próximo mês. Minha avó é muito velhinha, mas é muito legal, e a Escócia é um lugar divertido.

Beijos Emma

Natalia não podia acreditar em sua sorte! Ela voltou correndo para casa e esperou que a sua mãe retornasse do trabalho para pedir se poderia ir para a Escócia.

*

Agosto

A Escócia era tão diferente de Londres! A avó de Emma vive perto do mar em um pequeno vilarejo. As noites permaneciam claras por bastante tempo, e elas saiam para a praia. Havia framboesas crescendo nos arbustos, e você podia apanhá-las e comê-las quando quisesse. Natalia nunca as tinha visto crescer na natureza e ficou impressionada quando Emma pegou um punhado diretamente do arbusto.

No primeiro dia na Escócia, Natalia viu algo ainda mais empolgante do que framboesas silvestres... o mar!

“O mar, o mar!”, dizia ela. “Vamos colocar nossos pés na água!” E antes que Emma pudesse pará-la, Natalia tirou seus sapatos e correu em direção às ondas. Mas quando a água azul clara bateu nos seus tornozelos, Natalia gritou surpreendida:

“É tão frio!”, ela gritou para Emma.

“Eu tentei lhe avisar!” Emma riu, “mas você correu tão rapidamente! Aqui não é como no Rio. A água aqui na Escócia é muito fria”.

Elas pulavam para dentro e para fora da arrebentação e observavam as ondas quebrando nas rochas, até que seus dedos estavam dormentes de frio. Natalia se sentiu feliz pela primeira vez em muito tempo e se lembrou de quando brincava na praia com Rita, João e os outros primos no Brasil. Ela viu um pequeno barco amarrado a um cais de madeira, um pouco mais ao longo da praia, e a pequena menina pensou consigo mesma: “Nós poderíamos navegar pela costa da Escócia a pelo Oceano Atlântico nesse pequeno barco. Nós passaríamos pelos Estados Unidos e pelo México. Depois, a água iria começar a esquentar até que, finalmente, alcançaríamos o litoral do Rio!”.

Natalia imaginou como todos iriam ficar contentes de vê-las, e elas poderiam tomar suco de cupuaçu e de açaí, e comer feijoada e moqueca. Haveria um grupo de samba para recebê-las, assim como nas comemorações quando um gol é marcado pelo Botafogo... Schwoosh, schwoosh, splat splat, chuki-chuki-paf, chuki-chuki-paf!

Natalia e Emma brincaram o dia inteiro até que o sol começou a desaparecer. Elas conversaram sobre as diferenças entre a Inglaterra, a Escócia e o Rio de Janeiro. Elas exploraram, caminharam e correram uma atrás da outra pela praia até ficarem exaustas. Então, quando a noite caiu e o clima esfriou, as duas amigas voltaram para a casa para jantar.

Naquela noite, enroladas na cama, no pequeno chalé de praia da avó de Emma, Natalia pensou o quanto ela tinha sorte de poder conhecer outras culturas e de fazer novas amizades tão longe de casa.

“A Inglaterra pode ser molhada”, ela pensou, “e o mar da Escócia é muito frio, mas há sempre algo para apreciar em uma nova cultura, há sempre algo para admirar e aprender.”

Antes de se deitar naquela noite, Natalia prometeu a si mesma que iria escrever para Rita e pedir desculpa pela discussão boba, e iria contar tudo sobre a Escócia, sobre o pequeno chalé no litoral e até mesmo como ela estava esperando haver neve no inverno inglês.  Isso é algo que Natalia nunca tinha visto no Rio de Janeiro!  

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